"Estou há mais de meia hora tentando digitar esse texto, sem ser agressivo, mas de forma que fique clara minha opinião e principalmente minha indignação.
Pois bem,
como tem se tornado rotina para os atores da CIA de Teatro Trancos & Barrancos, saí do ensaio por volta da 00:00h, e procurei algum lugar em que pudesse lanchar, antes de ir pra casa.
Passando pela praça central da cidade, encontrei um menino que costuma perambular por lá até altas horas... A fome parecia ser uma constante em seu olhar. Convidei-o a lanchar comigo e me fazer companhia.
Fomos à única lanchonete aberta até o momento, na qual, rotineiramente, uma kombi costuma ficar parada logo em frente, até o fim do expediente, esperando pelos donos do estabelecimento.
O flagelo da noite começou a partir do momento que entrei nesse lugar!
Ali, percebi - na verdade, acho que vi cara a cara - a capacidade de que as pessoas têm de marginalizar quem já vive às margens da sociedade. O poder de invisibilizar o outro que as pessoas conseguem demonstrar.
Contemplei, de fora, a pior faceta do ser humano: o PRECONCEITO.
Ali, naquela 'singela' lanchonete, vi nos olhares dos proprietários o nojo para com uma pessoa que vive sempre no limite. Olhares que acusam. Olhares que julgam. Olhares que dilaceram a alma.
Ali, naquela 'singela' lanchonete, vi nas expressões constrangidas dos funcionários o quanto a relação para com o patrão parecia, de certa forma, subserviente ao extremo.
O garoto foi enxotado de perto da tv, da mesma forma com que se manda um bandido à cadeira elétrica. Ele foi mandado sentar à distância, como um cão que rasgou o papel higiênico ou molhou o chão do banheiro ao tentar beber água da privada. Ele foi ignorado por todos, como tentamos ignorar um mosquito que zumbe debaixo da coberta...
Permaneci no local por dois motivos:
1- Eu estava com fome.
2- Ele estava com fome [e, sinceramente, eu não sabia quando ou se ele tinha feito alguma refeição hoje - entenda ontem].
Assim, pedi dois salgados, um pra cada e um suco de laranja.
Comemos os dois primeiros enquanto o suco ficava pronto. E pra surpresa geral da nação [#SóQueNão], a funcionária que nos atendeu trouxe apenas UM copo ao servir uma jarra de suco de quase 1 litro.
PUT A KEEP ARE YOU!
Será que ela não sabe contar?
Suspeito que saiba! Só suspeito...
Pra enfeitar ainda mais o ambiente, a hipocrisia e a dissimulação tomaram conta do ambiente. Enquanto comigo o tratamento eram com "Quer mais alguma coisa, querido?", "Precisa de algo, bonitim?", Com o pobre desgraçado era coisas como "Vai comer um kg de meu ketchup?" - que, diga-se de passagem, poderia ser chamado, sem prejuízos, de "água-chup".
Enfim, enquanto comíamos o segundo salgado e eu tentava digerir a situação, conversava com o garoto. Ao nos despedirmos, ele me agradeceu e disse:
"Tio, me dá uma chuteira pra eu poder jogar bola?"
Vi naquele rapazinho, milhares de jovens brasileiros que vivem com o sonho de se tornar jogador de futebol. Vi nele a possibilidade de mudança.
Mas, ao que me parece, se depender de pessoas como as que vi hoje, repletas de valores familiares, religiosos e sociais, que fecham seu comércio na sexta a noite por conta de sua religião, que valoriza os capitalizados e subverte os anseios dos marginalizados a fim de garantir, ao menos, sua permanência em seu degrauzinho minúsculo da gigantesca pirâmide social que rege todas as relações econômicas e trabalhistas nesse país, esse Garoto, não tem perspectiva nenhuma de realizar seu sonho.
Meu coração foi dilacerado por 11 reais de lanche."
https://www.facebook.com/eliweltonlima/posts/574211972635482
Pois bem,
como tem se tornado rotina para os atores da CIA de Teatro Trancos & Barrancos, saí do ensaio por volta da 00:00h, e procurei algum lugar em que pudesse lanchar, antes de ir pra casa.
Passando pela praça central da cidade, encontrei um menino que costuma perambular por lá até altas horas... A fome parecia ser uma constante em seu olhar. Convidei-o a lanchar comigo e me fazer companhia.
Fomos à única lanchonete aberta até o momento, na qual, rotineiramente, uma kombi costuma ficar parada logo em frente, até o fim do expediente, esperando pelos donos do estabelecimento.
O flagelo da noite começou a partir do momento que entrei nesse lugar!
Ali, percebi - na verdade, acho que vi cara a cara - a capacidade de que as pessoas têm de marginalizar quem já vive às margens da sociedade. O poder de invisibilizar o outro que as pessoas conseguem demonstrar.
Contemplei, de fora, a pior faceta do ser humano: o PRECONCEITO.
Ali, naquela 'singela' lanchonete, vi nos olhares dos proprietários o nojo para com uma pessoa que vive sempre no limite. Olhares que acusam. Olhares que julgam. Olhares que dilaceram a alma.
Ali, naquela 'singela' lanchonete, vi nas expressões constrangidas dos funcionários o quanto a relação para com o patrão parecia, de certa forma, subserviente ao extremo.
O garoto foi enxotado de perto da tv, da mesma forma com que se manda um bandido à cadeira elétrica. Ele foi mandado sentar à distância, como um cão que rasgou o papel higiênico ou molhou o chão do banheiro ao tentar beber água da privada. Ele foi ignorado por todos, como tentamos ignorar um mosquito que zumbe debaixo da coberta...
Permaneci no local por dois motivos:
1- Eu estava com fome.
2- Ele estava com fome [e, sinceramente, eu não sabia quando ou se ele tinha feito alguma refeição hoje - entenda ontem].
Assim, pedi dois salgados, um pra cada e um suco de laranja.
Comemos os dois primeiros enquanto o suco ficava pronto. E pra surpresa geral da nação [#SóQueNão], a funcionária que nos atendeu trouxe apenas UM copo ao servir uma jarra de suco de quase 1 litro.
PUT A KEEP ARE YOU!
Será que ela não sabe contar?
Suspeito que saiba! Só suspeito...
Pra enfeitar ainda mais o ambiente, a hipocrisia e a dissimulação tomaram conta do ambiente. Enquanto comigo o tratamento eram com "Quer mais alguma coisa, querido?", "Precisa de algo, bonitim?", Com o pobre desgraçado era coisas como "Vai comer um kg de meu ketchup?" - que, diga-se de passagem, poderia ser chamado, sem prejuízos, de "água-chup".
Enfim, enquanto comíamos o segundo salgado e eu tentava digerir a situação, conversava com o garoto. Ao nos despedirmos, ele me agradeceu e disse:
"Tio, me dá uma chuteira pra eu poder jogar bola?"
Vi naquele rapazinho, milhares de jovens brasileiros que vivem com o sonho de se tornar jogador de futebol. Vi nele a possibilidade de mudança.
Mas, ao que me parece, se depender de pessoas como as que vi hoje, repletas de valores familiares, religiosos e sociais, que fecham seu comércio na sexta a noite por conta de sua religião, que valoriza os capitalizados e subverte os anseios dos marginalizados a fim de garantir, ao menos, sua permanência em seu degrauzinho minúsculo da gigantesca pirâmide social que rege todas as relações econômicas e trabalhistas nesse país, esse Garoto, não tem perspectiva nenhuma de realizar seu sonho.
Meu coração foi dilacerado por 11 reais de lanche."
https://www.facebook.com/eliweltonlima/posts/574211972635482
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